Impresso de ASO: Armored Scum Object (nome japonês).Capa digital da coletânea SNK 40th Anniversary Collection.
Lançamento original: 1985 (SNK). Plataforma original: Arcade. Versão utilizada: Windows (SNK, 2019).
Alpha Mission, como é conhecido ASO: Armored Scrum Object no ocidente, é mais um shooter de nave com tela de rolagem, gênero que dominou os arcades nos anos 1980. Seu grande distintivo, como indica o nome japonês, é o sistema de armadura da nave, com diferentes tipos de proteção que poderiam ser utilizados de modo discricionário pelo jogador conforme a situação exigisse.
Lançado exatamente no meio da década, Alpha Mission denota tanto uma consolidação do gênero através de seus elementos recorrentes, como (junto de TNKIII, como vimos) uma consolidação dos rumos da SNK, que cada vez menos iria se arriscar em jogos mais experimentais, com os shooters e, posteriormente, os jogos de luta assumindo a cara da empresa. Foi publicado em 1985 em máquinas de fichas e também foi arrolado na coletânea multiplataformas comemorativa de 40 anos da empresa.
Ys: The Oath in Felghana (o qual chamarei apenas Ys III) começa com Adol em viagem à procura de novas aventuras acompanhado de seu então novo amigo Dogi, algum tempo após o desenlace de Ys II. Seu destino é exatamente a terra natal de seu companheiro de viagem, a vila Redmont na ilha Felghana. As coisas, no entanto, não vão bem no local, como logo descobrem Adol e Dogi ao desembarcar nas proximidades da vila. No caminho para Redmont, Adol encontra Elena, amiga de infância de Dogi, sob ataque de monstros. Após protegê-la dos ataques, os três chegam à vila ao anoitecer. No dia seguinte, o protagonista é recepcionado pelos moradores locais, que pedem ajuda a ele para resgatar o prefeito Edgar e mineradores que ficaram encurralados por monstros enquanto investigavam a mina.
Ao chegar a Felghana, salvamos uma moça em apuros.
A história de Ys III não foge daquilo que se espera de um RPG japonês, com seus clichês e motes usuais, partindo de problemas mundanos até abranger uma ameaça divina. Além do aparecimento de monstros na ilha, medidas autoritárias são impostas pelo Lord McGuire, rei do Castelo Valestein ao qual Redmont é subordinada. Sem expor motivos, ele ordena o fechamento da mina de raval, um metal precioso e principal produto da economia local, e aumenta o recolhimento de tributos. Durante o resgate do prefeito, surge Chester, um escudeiro de Lord McGuire, obrigando todos a saírem do local fechado por ordem do rei. Chester é também irmão de Elena, que havia desaparecido meses antes sem dar notícia. Ambos foram adotados quando crianças pelo prefeito Edgar e, dada sua índole bondosa, o irmão, agora à serviço de um déspota, provoca espanto na população de Redmont quando esta toma conhecimento de seu paradeiro.
Após a introdução, estamos livres para explorar a vila Redmont.
A mina Tigray é a primeira dungeon do jogo e conta também, em sua parte mais profunda, com o primeiro chefe. As batalhas contra chefes seguem o mesmo padrão em arenas simples (circulares, na maioria das vezes), em que o adversário desfere golpes cadenciados em sequências previsíveis, o que torna a tentativa e erro uma tática válida para vencê-los. Na dificuldade Normal, o desafio é bem equilibrado e caso algum deles ofereça alguma dificuldade, basta Adol subir um ou dois níveis para que o jogador perceba um significativo incremento em sua força e defesa.
Um mapa de Felghana expõe os lugares que iremos visitar durante o jogo.
Com exceção de alguns pontos inacessíveis nas primeiras dungeons, às quais devemos retornar após adquirir algumas magias, o jogo é bastante linear. Por falar em magias, elas são parte essencial do combate e da exploração de cenários, embora haja apenas três conjurações: um redemoinho de vento, capaz de suspender Adol temporariamente no ar, uma bola de fogo, que pode acender tochas nas paredes, e uma magia de elemento terra em que Adol desfere um golpe com o corpo e é capaz de derrubar paredes e o protege de ataques.
Apesar dos visuais 3D, a perspectiva remete ao bidimensional do jogo original.
A história envolve a ressurreição de uma entidade maligna, Galbalan, que fora aprisionado anos antes em quatro estátuas mágicas, as quais estão distribuídas pelas dungeons do jogo e que acabamos recuperando quando investigamos estes lugares. Chester e o rei McGuire obviamente também estão atrás das estátuas, pois o rei pretende usar o poder da entidade para expandir seus domínios. O que não sabemos é que o rei estava sendo manipulado por outro personagem que julgamos aliado, cuja traição é revelada próximo ao final do jogo. Já Chester possui outras intenções ao servir as forças do mal. Ele e sua irmã Elena são os últimos sobreviventes da ilha de Genos, onde sua população fora quase totalmente aniquilada por McGuire uma década antes. O nome da ilha vinha do fato que lá viviam os descendentes de Genos, guerreiro que havia aprisionado Galbalan no passado, e o extermínio de toda sua linhagem foi executado para que não pudessem seguir os passos de seu antepassado. Chester decide aliar-se ao algoz de sua terra natal para ele próprio recuperar as estátuas e usá-las contra o rei.
Apesar da repetitividade das batalhas, há variedade nos cenários, de cavernas de fogo a montanhas gélidas.
Durante a aventura principal, devemos rotineiramente retornar à vila de Redmont para melhorar nossos armamentos e, simultaneamente, observar os desenvolvimentos dos personagens locais. Às vezes, alguns deles nos pedem para encontrar um objeto ou realizar alguma pequena missão e, apesar destas missões serem consideradas opcionais, é quase inevitável deixar de realizá-las, dada a sua simplicidade e conveniência no cumprimento delas para a missão principal. Como acontecia nos primeiros jogos, todos os itens de Ys III são essenciais para avançar na aventura, com um papel bem definido dentro da narrativa e das mecânicas de jogo.
As batalhas frenéticas contra chefes gigantes são a marca registrada da série.
Uma novidade deste remake é que, além dos objetos acumuláveis de uso específico, os inimigos vencidos deixam espólios que são utilizados imediatamente ao serem coletados, como poções que recuperam energia ou oferecem bônus temporários em atributos ou na aquisição de experiência. O caráter imediato e temporário destas poções favorecem o aspecto frenético do jogo, em que o jogador é estimulado a enfrentar a maior quantidade possível de inimigos em sequência para estabelecer um momentum no acúmulo de bônus em sua força. Dinheiro e raval também podem ser encontrados como espólio, no caso do minério apenas em inimigos mais robustos próximo ao fim do jogo.
Adol e companhia observam Galbalan sucumbido após a a batalha final.
Adol atravessa ruínas esquecidas, as profundezas da terra, uma montanha gelada, um castelo amaldiçoado e, por fim, a ilha de Genos, onde ele coloca um fim ao maligno que habita aquele local. Durante suas peripécias, a história se desenvolve em ritmo regular, o que quebra a monotonia das batalhas constantes. Explicações sobre o passado dos personagens, algumas reviravoltas e um clássico sacrifício redentor no final do jogo em prol do coletivo preenchem as inúmeras cenas cinematográficas. Elena, cujo papel é presente por toda a história, desenvolve afeição pelo protagonista, mas Adol, após cumprir sua missão, deixa Felghana em busca de novas aventuras. Desta vez, no entanto, Dogi decide ficar em sua cidade natal para ajudar na reconstrução.
A ilha de Genos é completamente destruída com a entidade Galbalan dentro dela.
O motor de jogo deste remake foi reaproveitado de Ys VI (2003) e favorece o estilo de jogo da série, permite ações rápidas e exige poucos recursos da máquina, pois os cenários poligonais são sobrepostos com personagens bidimensionais, muito bem animados diga-se de passagem. Como Ys III original era representado em tela de rolagem lateral, aqui muitos cenários, mesmo sendo todos 3D, carregam esse legado: a câmera fixa e o direcionamento dos cenários enfatizam o caminhar de Adol na tela da esquerda para direita e vice-versa.
Adol se despede para buscar novas histórias.
A trilha sonora, apesar de não ser tão memorável quanto a dos primeiros jogos, é boa e eletrizante, o que combina com a dinâmica frenética do jogo. Novamente temos uma combinação de novos arranjos em metal com as melodias dos anos 1980, uma espécie de j-rock da época. Uma atualização de 2020 adicionou dublagem em inglês à versão de PC e é ativada automaticamente ao instalar o jogo. A qualidade prejudica o produto final, com vozes típicas das dublagens de anime em inglês (isto é, demasiadamente infantis e horríveis), por isso recomendo desativá-las no menu de configurações acessado por um executável externo ao jogo.
Fim.
Com certos trechos um pouco arrastados e repetitivos, Ys III não deixa de ser um agradável jogo, e, com seus vários níveis de dificuldade, pode se ajustar a quem queira maior ou menor desafio. O tempo de jogo, curto para um RPG, também é convidativo para quem não quer se prolongar em uma aventura épica ou quem gosta de jogos que podem ser repetidos sem exigir tanta dedicação. Ainda que eu prefira a história e o acabamento do remake dos dois primeiros jogos (com cenários 2D graciosamente animados e delicados), Ys III é quase obrigatório para amantes da série, uma das únicas que une RPGs japoneses à ação rápida encontrada em arcades.
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